O processo de seleção de universidades norte-americanas e europeias, via de regra, é completamente diferente do vestibular brasileiro, em que os estudantes fazem apenas uma prova. Nos EUA, a seleção leva em consideração, além de provas (SAT ou ACT), teste de proficiência em inglês, histórico escolar, cartas de recomendação e redações. As escolas querem avaliar o candidato como um todo, incluindo suas paixões, interesses e conquistas além da sala de aula. Por isso, as atividades extracurriculares desenvolvidas pelos estudantes têm peso importantíssimo.
Muitos, no entanto, associam de forma equivocada atividades extracurriculares a trabalho voluntário. Apesar de ser importante – para o mundo e não necessariamente para ser aprovado em uma universidade ‘top’ – há atividades extraclasse que vão bem além de trabalho voluntário. O site About.com fez uma lista dessas atividades:
Artes: atividades relacionadas a teatro, música, dança, pintura, fotografia e quaisquer outras áreas que envolvam criatividade.
Ações na comunidade: aqui entram, por exemplo, atividades realizadas junto a instituições religiosas (planejamento de eventos, jantares beneficentes, trabalhos missionários, etc) e a grupos da sociedade.
Clubes: no EUA, são muito comuns os ‘clubs’ que unem pessoas com os mesmos interesses. No Brasil, eles não são tão frequentes, mas também existem, como grupos de estudo de idiomas, de debates, de discussões de questões raciais e feministas.
Governança: incluem atividades ligadas a comissões escolares, conselhos estudantis, grêmios, etc.
Hobbies: seja criativo neste tópico. As faculdades estão interessadas em suas ‘paixões’. Elas podem ser, por exemplo, hipismo ou então colecionar algum tipo específico de objeto.
Mídia: incluem participações no jornal ou rádio da escola, escrever para blogs, etc.
Música: aqui incluem tanto sua participação em bandas como seus interesses individuais ligados à música (canto, violão, guitarra, bateria…).
Esportes: se você tiver atuação de destaque ou paixão por algum esporte (futebol, vôlei, basquete, dança, beisebol…) vale mencionar.
Olimpíadas do conhecimento: é muito valorizada a participação em olimpíadas escolares nacionais e internacionais.
Voluntariado: os trabalhos voluntários incluem ações para crianças, idosos e pessoas em situação de risco, além de trabalhos de ajuda aos animais e ao meio ambiente de forma geral.
Quais, quando, e por quê?
Segundo Pedro Mendonça, que fez sua graduação em Yale, o importante é fazer coisas com as quais o estudante se identifica. Ele, que praticava esportes, toca bateria e fazia serviço comunitário, afirma que não começou a fazer nada a mais quando decidiu se candidatar a universidades fora.
“Tenho outros amigos que fizeram coisas simplesmente porque queriam estudar fora. Talvez você tenha que ter esta motivação, talvez não, o importante é fazer. Acho que não vale a pena você fazer uma atividade com a qual você não tem nada a ver porque (…) a sua história tem que ser condizente com você”.
Projetos sociais como atividades extracurriculares
Gustavo Torres, por sua vez, fundou um projeto social com um amigo seu. Aprovado em Stanford em 2015, ele acredita que o fato do projeto ser fortemente associado à sua trajetória impactou positivamente na sua candidatura. Foi também uma primeira experiência na área de empreendedorismo, o que lhe ajudou em termos de autoconhecimento. “Eu fui aprendendo cada vez mais que eu gostava muito de desenvolver projetos”, comenta.
Por sua vez, Renan Ferreirinha, aluno de Harvard, teve uma série de envolvimentos com um projeto chamado Somar como atividades extracurriculares no ensino médio. Criou um curso comunitário de inglês para moradores do complexo do Lins, na zona norte do Rio de Janeiro. “Foi um legado bem bacana e uma experiência muito grande de vida para a gente”, conta.
As atividades extracurriculares de um aprovado em 8 universidades dos EUA
“Nada cai do céu”, reconheceu Caio de Oliveira. O lugar-comum que cita tem para ele um quê de autossatisfação: a aprovação para estudar em uma reconhecida universidade estadunidense, após anos de preparação para isso.
Em 2016, Caio recebeu a carta de aprovação da Cornell University, uma das 11 instituições americanas para as quais se inscreveu na esperança de estudar nos Estados Unidos (além de Cornell, ele foi aceito em outras sete). O plano, conta, era antigo: desde os 12 anos o jovem se envolveu em projetos fora da sala de aula que lhe motivassem e, além disso, impulsionassem seu currículo. O primeiro deles, ainda no Ensino Fundamental, foi organizar competições de xadrez em um asilo.
“Fiz bastante trabalho voluntário, porque desde criança gostava de me envolver. Achava que tinha uma responsabilidade social como cidadão”, conta. Além do asilo, Caio auxiliou aulas de matemática da rede estadual de ensino. No terceiro ano do colegial, envolveu-se com uma feira de ciências e desenvolveu uma pesquisa sobre próteses de braços feitas em uma impressora 3D. No mesmo ano, participou do London International Youth Science Forum, que aconteceu no Imperial College, em Londres, apresentando um projeto sobre eficiência de métodos de aprendizagem.
“Escolas gostam de alunos que sabem identificar problemas e tomam atitudes para resolvê-los. É importante estar consciente do que se vive, procurar problemas inusitados. Não custa nada juntar um grupo de amigos e ter essa iniciativa.” Como as soluções para o problema que se quer resolver nem sempre são óbvias, ele reforça o valor do planejamento.
Preparação para a Candidatura
Ao longo do tempo, Caio também se familiarizou com as oportunidades que poderia ter nos EUA. Participou de alguns cursos de verão em universidades americanas e buscou investir em atividades que lhe oferecessem experiências diferentes. “Eu quero estudar políticas públicas e matemática, mas fiz um trabalho sobre próteses, que não tem nada a ver com isso. Você não precisa procurar atividades só em áreas que tenham a ver com o que quer estudar na faculdade. É legal achar um equilíbrio entre as coisas, sair da zona de conforto”, recomenda.
Caio acredita que o ecletismo de suas experiências foi um ponto positivo da candidatura. Mas, mais que isso, ele considera que seu mais importante feito durante o processo foi ouvir o mundo ao seu redor: “Todo mundo tem algo novo pra te ensinar. Tentava aprender tudo com quem conversava: estrangeiros, brasileiros, sempre tentava aprender algo novo.”, diz. “Me envolver com essas coisas foi essencial para dar certo. Agora estou aqui e me sinto mais maduro para encarar uma nova experiência”, completa.
Mitos e verdades sobre atividades extracurriculares
Para ser aprovado em uma universidade do exterior, é preciso muito mais do que boas notas. Com a filosofia de conhecer os alunos por completo, as instituições exigem, além das provas padronizadas e de proficiência no idioma do país de destino, histórico escolar, cartas de recomendação, redações e dezenas de formulários.
Neste processo, uma das formas de um candidato se diferenciar dos demais é explorando bem as suas atividades extracurriculares mais importantes. Aí, vem a dúvida: o que as universidades realmente valorizam? O que você deve contar aos admissions officers (profissionais responsáveis pela seleção dos candidatos) e o que é melhor guardar só para você?
Para ajudar a esclarecer essas dúvidas, o Estudar Fora investigou os mitos e as verdades sobre as atividades extracurriculares. Confira:
“As atividades extracurriculares não têm muita importância. É comum ser aprovado se você tiver as melhores notas.”
MITO. Segundo Mateo Corby, coordenador do Personal Prep – o programa de preparação para admissão em universidades da Fundação Estudar – , as melhores escolas já esperam que você tenha notas altíssimas. Isso não é um diferencial. “Entre tantos alunos inteligentes, o admissions officer vai escolher os que têm algo a acrescentar à comunidade universitária, e as atividades extracurriculares dizem muito sobre a perspectiva individual de cada estudante”, explica. Alunos que foram bem-sucedidos no processo de application também afirmam que é preciso olhar as atividades extracurriculares com atenção, dando-lhes a devida importância: “Todos os concorrentes são muitos bons. É preciso sair do normal para ser bem sucedido”, considera Michel Zelazny, freshman (nome dado aos calouros) na Universidade Columbia.
“Nunca fiz nada além de ir à escola, mas vou começar a participar de várias atividades só para enriquecer meu application e impressionar as universidades.”
MITO. O candidato que fizer isso terá grandes chances de ser “descoberto” e uma probabilidade maior de ouvir um “não”. “É importante que o interesse pelas atividades seja genuíno. É fácil perceber quando um aluno se envolve com uma série de coisas diferentes três meses antes da temporada de applications. Por isso, as universidades fazem perguntas mais específicas, sobre posição de liderança e tempo de participação na atividade, e também entrevista”, explica Mateo, que é formado em Harvard.
“Posso usar minhas atividades extracurriculares para completar mais que uma seção da minha application.”
VERDADE. Tanto Michel, de Columbia, quanto Henrique Vaz, freshman da Universidade de Harvard, afirmam que as atividades extracurriculares estiveram presentes em outras seções além do formulário específico para elas. Os dois escreveram redações sobre atividades com que se envolviam, como coral e olimpíadas científicas. “As redações e a entrevista são uma forma de completar a exposição do background do aluno. Você pode falar, por exemplo, do impacto dessas atividades no seu crescimento”, acrescenta Mateo.
“Preciso fazer trabalho voluntário.”
MITO. Fazer trabalho voluntário é importante, mas para o mundo e não necessariamente para ser aprovado em uma universidade. Faça se tiver vontade. Mateo conta que, pelo Personal Prep, já passaram dezenas de alunos com os mais diversos interesses – não exatamente voluntariado – e que entraram nas escolas que almejavam. “Há estudantes que abriram empresas com 17 anos, outros que participam de grupos de arte circense…O importante é que o interesse seja verdadeiro”, diz.
“Quanto mais, melhor.”
MITO. Aqui, vale a regra de sempre: melhor qualidade do que quantidade. “É preciso considerar o que o aluno tirou de cada atividade. Às vezes, uma posição de liderança em um dos interesses vale mais que um encontro por semana em vários”, diz Mateo. Henrique Vaz concorda e diz que todas as atividades que exerceu o fizeram crescer de maneira diferente. “Não adianta fazer 20 coisas e não ter nada a falar sobre elas”.
Este texto foi originalmente publicado no Portal Estudar Fora, da Fundação Estudar, parceira do GUIA DO ESTUDANTE.
O impacto das atividades extracurriculares no “application” Publicado primeiro em https://guiadoestudante.abril.com.br/
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